terça-feira, 9 de outubro de 2012

Estudo da coloração das aves

Arlequim Português Consort Fêmea

Arlequim Portugues Corona Fêmea


"O canário Arlequim Português não é apenas a primeira raça portuguesa de canários.

Além de ser uma ave esbelta, que todos admiram, contém em si surpreendentes dotes que permitem proceder a vários estudos científicos de consequências práticas na criação de todos os canários.

Entre essas características foram seleccionadas três: o estudo da distribuição das cores melânicas nas penas dos serinus, trabalho já executado, o estudo da origem e genética da poupa, que está a ser realizado presentemente e, por último, o estudo da relação de tamanho entre a cabeça e o corpo dos serinus, estudo importante para a obtenção de poupas mais exuberantes.


Destes três estudos, o primeiro está concluído e o segundo, a origem e genética da poupa, encontra-se em realização.

No presente número daremos conta dos resultados obtidos sobre a distribuição das cores melânicas.

O estudo da coloração das aves divide-se em duas grandes áreas:

1 - Distribuição da coloração de cada indivíduo
2 - Transmissão das características dos pais para filhos (Genética)

Por sua vez, a distribuição da coloração tem de atender a duas situações:

1.1 - Distribuição nas penas
1.2 - Distribuição somática, isto é, no corpo da ave.

A distribuição na pena não é a mesma consoante se consideram as remiges (penas grandes das asas), as rectrizes (penas grandes da cauda) ou as tectrizes (penas pequenas do corpo).

Nestas últimas, responsáveis pela coloração do corpo da ave, tem de se considerar três zonas fundamentais:

1 - Zona profunda
2 - Zona superficial
3 - Zona acrescentada

Esta última não existe em todas as aves.

As características destas zonas dependem de fenómenos de natureza química que não cabe aqui desenvolver. Também a visualização das cores depende de factores de origem física, reflexão e refracção da luz que não interessa ao nosso estudo.

A zona profunda é a mais estável e é geneticamente fixa, não ligada ao sexo. Daí que surja clara em todas as aves lipocrómicas e escura em todas as aves melânicas.

Deve referir-se que em certas aves lipocrómicas, surgem manchas escuras que podem atingir apenas a zona profunda, surgindo, por isso, ao levantar as penas claras, um fundo escuro.

A zona superficial varia com a pigmentação e é responsável mais directa pela coloração da ave.

A zona acrescentada só surge em aves diluídas (schimmel) visto que as intensivas não a possuem.

É também uma característica de transmissão genética e, originariamente, no que respeita aos serinus, não ligada ao sexo, determinando o surgimento de duas grandes divisões:

1 - Aves de plumagem intensiva
2 - Aves de plumagem diluída

Mais tarde, com a introdução do hibridismo através do Cardinalito da Venezuela (Spinus cuculatus) fixou-se uma terceira situação: o mosaico.

As características de cada uma destas situações são conhecidas.

O quadro fica assim estabelecido:

1 - Aves de plumagem intensiva
2 - Aves de plumagem diluída
3 - Aves de plumagem mosaico ou dimórficas

Como se sabe, inicialmente só as fêmeas transmitiam a característica mosaico. Mais tarde, passou para os machos, mas a distribuição das manchas ficou sempre ligada ao sexo, embora existam exemplares de grande aproximação de desenho. Mais tarde surge o mosaico novo tipo e por fim mudou-se o nome para dimorfos.

Ainda em relação à distribuição da coloração da pena, deve considerar-se que a existência das duas ou três zonas é de transmissão genética no que refere à zona profunda que, como vimos, é a mais fixa.

O desaparecimento total de pigmentação nesta zona só surge em animais lipocrómicos mas deve ter-se em atenção que a despigmentação total só se verifica nas aves com olhos vermelhos. Na verdade, um canário branco de olhos escuros é entendido pelos hibridologistas como uma ave mesclada visto que apresenta melanina nos olhos.

Daí os criadores de híbridos de pintassilgo que procuram híbridos claros terem de fazer cruzamentos com canárias de olhos vermelhos.

No entanto, deve assinalar-se, que não existem aves sem pigmentos, porque esta situação é incompatível com a vida.

O sangue possui um pigmento, a hemoglobina, indispensável à oxigenação. Por outro lado, certos pigmentos gordos (lipocromos) são pré-vitaminas, isto é dão origem a vitaminas, essenciais à vida, sem as quais os animais superiores não podem viver.

É por isso que, numa fase de desenvolvimento em que não há ainda chegada de pigmentos alimentares, tem de existir uma substância amarela à disposição; é o que se passa no ovo.

Toda a gente sabe que a gema do ovo é amarela; mas porquê? Nunca poderia ser branca sob pena de a ave não se desenvolver por falta de pigmentos.

Como é sabido, a despigmentação da zona superficial da pena foi obtida pela primeira vez por mutação do canário do Harz, resultado de um in breeding apertado, visto que este tipo de criação é o ideal para a selecção do canto.

Sabe-se que o acasalamento de aves sucessivamente mais escuras origina, subitamente, uma despigmentação que originou o Opal.

Embora se aceite que o Ágata resultou de uma primeira diluição pelo mesmo processo, há quem pense, devido à existência do bigode, que foi obtido através de cruzamento com o Canário de Moçambique ( Serinus moçambicus).

A mutação da pigmentação melânica tem impedido a obtenção do canário totalmente negro, que só poderá conseguir-se por hibridação.

Como vimos, a distribuição do mosaico é fixa, isto é, os genes que transmitem esta característica encontram-se situados sempre nos mesmos locais da cadeia genética, sendo diferente no cromossomo X e no cromossomo.

Ora a distribuição do mozaico não afecta só a zona acrescentada da pena, arrastando também a zona superficial lipocrómica que, deste modo, é também uma zona geneticamente fixa.

O mesmo não se passa em relação à distribuição dos genes de fixação melânica que, pela sua constituição química, não são condicionados pela zona acrescentada da pena.

Deste modo, uma ave mesclada apresenta-se ou toda diluída ou toda intensiva, independentemente das zonas do corpo serem pigmentadas ou não.

Como resultado, as zonas de pigmentação melânica não são fixas, nem geneticamente nem fenotipicamente.

O que pode fixar-se, por selecção de criações sucessivas, é o número de manchas pigmentadas e a sua área, mas esta característica nunca é ligada ao sexo.

Como a maioria das características variáveis, também esta pode ser fixada ao cabo de muitos anos de selecção.

É por este motivo que as aves selvagens, como o canário de Moçambique, têm o desenho e distribuição das melaninas em locais determinados do corpo.

A Natureza teve milhões de anos para estabelecer o genótipo.

Daí que a fixação das manchas ou mesmo o seu aparecimento pode surgir pelo cruzamento de um pássaro melânico com um lipocrómico, como sucede frequentemente, aparecendo nas feiras pássaros que parecem da linha do Arlequim.

Só que perdem as suas características numa segunda geração visto que não há alteração genética.

É necessária uma seleção continuada para se fixarem as características melânicas.

Devido às dificuldades de fixar o local da pigmentação melânica é que foi abandonada a criação de aves simétricas.

Ora no Arlequim não é exigida esta característica: é uma ave em que a pigmentação lipocrómica é fixa mas na pigmentação melânica não são exigidos locais fixos; porém tem genes específicos de quantidade e área, que podem ser fixados. Esta é a grande chave da criação do Arlequim.



A labilidade dos genes melânicos faz aparecer, em certas aves claras, zonas escuras, sobretudo na cabeça, por herança genética do cardinalito da Venezuela.

São as melhores aves para reprodução visto que se encontram geneticamente mais próximas do mosaico original.

Por outro lado, foram as características referidas dos pigmentos melânicos que permitiram a criação de mosaicos escuros.

Também surgem aves mosaico com manchas escuras na camada profunda das penas, resultado da heterogeneidade da localização melânica.

Até há algumas décadas, pensava-se que a constituição genética era imutável até que Bárbara Maclintok, prémio Nobel da Medicina, descobriu, estudando a reprodução do milho, que é possível interferir na organização genética, mudando os genes, retirando uns, colocando outros.

A prática confirmou esta grande descoberta, sendo hoje utilizada na cura genética de várias doenças.

No que refere às aves, existem aves assimétricas (Diamantes de Gold, Mandarins, Canários mosaico...) que resultam da combinação anormal dos genes, sendo uma metade do corpo de um sexo (XX) e a outra metade do outro (XY) sexo.

Vale a pena referir, neste estudo, o caso do Canário de Poupa Alemão.

Trata-se, como é sabido, de um canário de porte mas que não admite mistura de lipocrómicos e melânicos, tendo a ave de ser uniforme, sem manchas, o que não acontece com outras raças de porte.

O Arlequim vem desfazer este anacronismo, permitindo a criação de aves variegadas muito belas.

Como vemos, a criação do Arlequim não tem só como finalidade a criação de um raça portuguesa de canários: ele permite alargar os estudos genéticos de um modo que nunca tinha sido conseguido até agora. Senão, vejamos:

O estudo da distribuição das cores melânicas e lipocrómicas só pode ser feito, na sua total complexidade, no Arlequim Português, já que só nesta ave existe a mistura de cores que permitam esse estudo.

Dos estudos que levei a efeito obtive as seguintes conclusões, acerca de deposição de manchas melânicas nos fringilídeos:

1 - As penas claras têm tendência para surgir na cauda
2 - As penas escuras têm tendência para surgir na cabeça
3 - A distribuição no ventre, quando há penas escuras é: alto ventre mais escuro, baixo-ventre mais claro
4 - Tendência às remiges da ponta das asas mais clara e as internas mais escuras.
5 - Existem locais naturalmente ligados à coloração melâmica: os olhos
6 - Existem locais em que surge com maior freqüência a lipocromação: cauda
7 - Existem locais de mistura lipo e melânica: escamas das patas, unhas, bico.
8 - Passando do animal melânico para sucessivamente mais lipocrómicos a evolução é:

Bico: negro passa a claro com traços de lápis, passa a claro

Patas: negro, passa a malhado, passa a clara

Penas: predominância melânica passa a equilibrado, passa a predominância lipocrómica. Nesta modificação a primeira a perder o melânico é a cauda e a última o topo da cabeça. (faz-se exceção ao Lizard que foi selecionado noutro sentido)

9 - A localização melânica e lipo é de localização independente, não interferindo uma com a outra.

Este estudo foi efetuado através da criação do Canário Arlequim Português ao longo de 11 anos, com cruzamento de canários entre si e do seu cruzamento com o Cardinalito da Venezuela, canário de Moçambique, e com o cantor de África.

Observei, ainda, 1. 800 aves, incluído canários e seus híbridos."

Texto: Professor Armando Moreno
by:  http://arlequimportugues-canario.blogspot.pt

Sem comentários:

Enviar um comentário