Desde 1478, os canários eram criados em cativeiro no continente europeu, mas, somente em 1709, foi publicado o primeiro livro exclusivamente sobre esses pássaros, cujo autor, Hervieux de Chanteloup, já relacionava vinte e nove qualidades distintas pela cor da plumagem, entre eles os canários verdes, canelas, brancos, amarelos e alguns com olhos supostamente vermelhos. Também estavam incluídos os pássaros pintados (mutação do factor enzima) e o factor intenso (mutação do factor nevado).
A cor verde do canário resulta dos efeitos de vários componentes que entram
na formação de suas plumas e penas. Basicamente, o verde é conseguido pela
combinação do amarelo do lipocromo com as melaninas negra e castanho e em
alguns casos pelo azul reflectido por pequenas partículas de melanina negra
dispersa na plumagem, mais precisamente nas bárbulas.
A presença da melanina castanho, a nuance do amarelo que é extremamente variável e o factor intenso, além de alguns outros factores, fazem variar o tom do verde, indo do verde musgo ao cinza esverdeado, quase sem brilho, que caracteriza o canário ancestral.
A presença da melanina castanho, a nuance do amarelo que é extremamente variável e o factor intenso, além de alguns outros factores, fazem variar o tom do verde, indo do verde musgo ao cinza esverdeado, quase sem brilho, que caracteriza o canário ancestral.
A primeira modificação da cor do canário ancestral ocorrida em cativeiro
foi o desaparecimento dos pigmentos melânicos em algumas partes da plumagem,
numa primeira etapa, e, posteriormente, sua inibição total, transformando o
canário verde original em um pássaro totalmente amarelo, com olhos escuros.
Esta mutação ocorreu por uma deficiência na função exercida pelo factor enzima,
que será tratado posteriormente.
Também o factor nevado presente no canário ancestral sofreu mutações, dando
origem ao factor intenso. Esses dois factores influem na estrutura das plumas e
penas, fazendo com que o pássaro intenso apresente normalmente uma plumagem
mais compacta, tornando o seu contorno ligeiramente menor. As penas de um
pássaro nevado apresentam uma zona despigmentada na extremidade, variável de
indivíduo para indivíduo. Já no pássaro intenso, os pigmentos atingem as
extremidades das barbas e barbelas e a coloração da plumagem é uniforme,
normalmente se apresentando com um tom mais forte.
O canário ancestral possui cor de fundo amarelo clara. O amarelo é
resultante do depósito de lipocromo nas barbelas, barbas e eixo das plumas e
penas. A ausência de lipocromos deu origem à cor de fundo branca e,
consequentemente, aos canários "brancos dominantes", mas com incrustações amarelas em sua
plumagem.
Em 1908, na Nova Zelândia, um casal de pássaros amarelos nevados deram
origem a um pássaro totalmente branco. Com acasalamentos consanguíneos,
conseguiu-se fixar a mutação, descobrindo-se que o gene se localizava em um
autos somo e que era recessivo. Os primeiros pássaros obtidos eram bastante
frágeis e de difícil desenvolvimento. A fragilidade de tais pássaros se devia a
uma deficiência orgânica, que não os deixava sintetizar a vitamina
"A". Receberam a denominação de Brancos Recessivos, por já existirem
os Brancos Dominantes. Sabe-se hoje que o branco não chega a ser uma cor e sim
uma ausência total do lipocromo amarelo. Deve-se observar, porém, que a
terminologia branco recessivo não é considerada correcta, apesar de bastante
utilizada. A denominação Branco já caracteriza um canário como recessivo.
Uma outra modificação fez com que o gene responsável pela formação de melaninas
negras e castanhas perdesse seu potencial. Isso acabou afectando o estágio
final do processo de pigmentação, dando origem à mutação canela (ou castanho
oxidado). Essa foi a primeira mutação a afectar a cor das melaninas e o canela
nada mais é do que um verde onde a melanina negra foi substituída pela
castanho.
Nessa época, já haviam três cores de fundo: o Amarelo, o Branco Dominante e
o Branco Recessivo. Adicionados à Linha Escura Clássica (onde os canários
apresentam melaninas negra e castanho) e aos factores Intenso e Nevado, já era
possível identificar dezasseis cores bem distintas.
No início deste século apareceu a primeira mutação que deu origem à
canaricultura visando a cor dos canários. Na Holanda, em um criador de canários
de canto clássico, do acasalamento de pássaros verdes surgiram canários
mutantes, hoje classificados como Ágatas. A característica principal desta
mutação é o bloqueio ao depósito de melaninas no início do crescimento das
penas e plumas (diluição dos pigmentos negro e canela). A prole consistia
somente de fêmeas. Através de acasalamentos consanguíneos, a mutação foi
fixada, dando origem a uma nova cor e ao início de uma série de mutações.
O factor que produziu o ágata, conhecido também como primeiro factor de
diluição, foi aplicado à mutação canela e, os machos verdes obtidos desse
acasalamento, produziram os primeiros castanhos diluídos, denominados
Isabelinos.
Na década de 20, foi desenvolvido na Alemanha o primeiro trabalho sobre
genética de canários de cor. Em 1926, tiveram início alguns estudos para a
produção de um canário de cor de fundo vermelha. Como o canário não possuía
vermelho em seu património genético, tentou-se o acasalamento com outro
pássaro, o Tarim (Spinus Cuculatus), um pássaro de tamanho pequeno, com o corpo
colorido de vermelho vivo, cabeça, asas e cauda negras, com barras vermelhas
nas asas, conhecido como Pintassilgo da Venezuela. O canário fêmea utilizado
nesta experiência era de cor amarela e, através do acasalamento com um macho
Tarim, nasceram híbridos de cor acobreada. Essa experiência passou por várias
fases de insucesso, algumas gerando fêmeas estéreis e outras causando a perda
da cor obtida anteriormente. Somente após dez anos de tentativas, foram obtidas
fêmeas férteis que possuíam os genes responsáveis pela assimilação do vermelho.
Com Alimentação apropriada, estes canários conseguiram atingir tonalidades de
vermelho bem vivas. É importante frisar que uma vez que o factor vermelho foi
inserido no canário artificialmente, através de hibridação, isto não constitui
uma mutação.
Dos acasalamentos entre pássaros de factor vermelho surgiram algumas fêmeas
esbranquiçadas com zonas de lipocromo idênticas às observadas na fêmea do Tarim.
No final dos anos quarenta, surgiram os mosaicos, hoje bastante aperfeiçoados.
A princípio, parecia não ser possível obter machos mosaicos, mas com o passar
do tempo essa teoria foi abandonada, pois machos com características bem
diferentes dos nevados começaram a aparecer. Através de selecção e da
introdução de pássaros Gloster (um dos tipos de canários mais populares) pelos
italianos nos planteis de mosaicos, obteve-se um novo tipo de mosaico, onde o
macho e a fêmea apresentam dimorfismo típico.
Já na década de cinquenta, três novas mutações apareceram: o marfim, o
pastel e o opalino.
A mutação marfim surgiu de um casal de amarelos de canto clássico, no
começo da década. A mutação ocorreu em uma fêmea, que possuía um amarelo muito
suave, contrastante com a cor dos pais e irmãos, apresentando uma uniformidade
de coloração perfeita. A utilização de acasalamentos consanguíneos permitiu
fixar a mutação e classificá-la como recessiva e sexo-ligada.
Em 1957, na Itália, foram apresentados os primeiros pastéis melânicos. Esta
mutação é também conhecido como segundo factor de diluição, pois sua acção é
mais intensa sobre as feomelaninas e faz praticamente desaparecer o desenho dos
castanhos deixando, porém, leves traços nos canários canelas. A mutação foi
transferida para os negro-castanhos e nestes notou-se também a acção do factor
sobre as melaninas negras.
No ano seguinte, em Nuremberg, Alemanha, um dos filhotes de um casal de
canários verdes de canto clássico se diferenciava bastante dos demais. Ao invés
de apresentar as melaninas fortemente oxidadas, seus pigmentos melânicos
estavam diluídos de tal modo que o negro ficara com uma tonalidade cinza
azulada e o castanho praticamente desaparecia da plumagem. Os pés e bico,
porém, continuavam escuros, aparentemente sem sofrer a acção do novo factor de
diluição. Por analogia da plumagem com a perda preciosa, esses canários foram
denominados opalas e, posteriormente, opalinos. Esta mutação é recessiva em relação
ao seu original e se localiza em um autos somo.
Por volta de 1964, em Bruxelas, Bélgica surgiu uma nova mutação cujo
fenótipo podia ser facilmente confundido com um lipocrômico vermelho ou um
pastel isabelino, mas que possuía uma sub plumagem bege pálido e olhos
vermelhos brilhantes, cuja cor não se alterou com o desenvolvimento do pássaro.
Esse factor recebeu a denominação "Ino". Localiza-se em um autos
somo, é recessivo e inibe totalmente as melaninas negras, permitindo apenas o
depósito das melaninas castanhos periféricas.
O factor Ino provoca o desaparecimento das eumelaninas negras e castanhos
da plumagem, mas não da sub plumagem (não aparente no canário). A única
melanina exibida na plumagem externa e de contorno destes canários é a
feomelanina, que deve se apresentar o mais forte possível (castanho chocolate).
Nos canários melânicos, a melhor manifestação do factor Ino é observada nos
pássaros oxidados (em particular os canelas) onde o factor é denominado
"Feo-ino"[HUR96].
Também na década de 60 surgiu uma nova mutação, o factor acetinado ou ino
sexo-ligado". Apareceu na Argentina, em 1967 e na França, em 1969. Os
pássaros possuíam olhos vermelhos. Contudo, a distribuição das melaninas
diferenciava-os dos inos autos somais. Ao contrário dos feo-ino, as melaninas
periféricas eram inibidas e somente a melanina castanho aparecia no lugar
correspondente às estrias, bastante diluída. Havia porém pássaros que se
assemelhavam aos lipocrômicos.
Os pássaros de origem castanho que apresentam marcação nítida nas estrias
são denominados "acetinados típicos", enquanto que os de origem negro
castanho, se apresentam praticamente como lipocrômicos e são denominados
"acetinados diluídos". Sendo um factor sexo-ligado e devido à maior
facilidade de manuseio, hoje, quase todos os lipocrômicos de olhos vermelhos
são de origem acetinada.
Uma modificação estrutural das células exteriores das penas resultou em uma
mutação denominada "Factor Óptico para o Azul". A luminosidade
produzida pelo espectro solar, decomposta em radiações, origina várias nuances
de cor, que podem ser observadas num mesmo canário em diferentes períodos do
dia, ou seja, cores mais amenas de manhã e mais fortes ao entardecer. A
plenitude da pureza da cor se observa ao meio-dia. Esse factor transmite o
efeito óptico que dá à cor amarela um tom esverdeado, daí a denominação Amarelo
Limão.
Os canários Asas-Cinza tiveram origem na Itália, em 1966. Esta mutação é,
na verdade, uma variante do factor pastel e se manifesta principalmente nos
negro-castanhos oxidados. Estes pássaros possuem uma pigmentação bastante
diluída na parte média das grandes penas da asa e de cauda, contrastando com as
extremidades onde a melanina negra persiste. A tonalidade acinzentada, típica
do negro castanho pastel, deve actuar em toda a plumagem.
A mutação topázio aconteceu na França, na década de 80, sendo oficializada
em 1993 na Europa e em 1994 no Hemisfério Sul. A alteração surgiu do factor ino
e os pássaros que apresentaram-na possuíam melaninas sempre castanhos no local
das estrias, olhos vermelhos escuros e bandas despigmentadas dos dois lados das
penas, o que acabou dando origem ao seu nome. Os canários topázio são
perfeitamente definidos nos negro castanhos, tanto oxidados como diluídos
(ágatas), onde a mutação se expressa.
A última mutação de que se tem notícia ocorreu em 1986, na Espanha. O
factor "Ónix" se originou do acasalamento entre canários clássico
homizigoto verde intenso e o canário azul. Como o factor eumo, o factor ónix
também foi classificado como recessivo autos somais.
A ordem, data e local onde as mutações apareceram pela
primeira vez não são precisas e podem não ser totalmente verdadeiras. Isso
porque há inúmeros criadores espalhados por todo o mundo e somente aqueles que
observam para reconhecer uma mutação quando ela aparece é que têm condições de
fixá-la através de acasalamentos correctos. Também não é raro detectar uma
modificação na cor de um pássaro e não conseguir reproduzi-la, fazendo com que
aparentemente ela seja perdida. O que se tentou fazer aqui foi relacionar todas
as mutações conhecidas actualmente, ou pelo menos as principais, colocando-as
numa ordem razoável e dando algumas poucas características de cada uma.
Sem comentários:
Enviar um comentário